Predestinação, Livre-arbítrio e Salvação

Dentre as diversas doutrinas teológicas apresentadas na história da igreja, um dos principais conflitos está entre a vertente defendida por Jacó Arminius e a defendida por Franz Gomarus. Ambos eram professores na Universidade de Leyden na Alemanha. Arminius criticou o ensino a respeito da predestinação. Franz, como os Calvinistas em geral, ensinava que a predestinação divina não leva em conta nada da parte do homem, mas é incondicional, enquanto Arminius afirmava que a predestinação pressupõe a fé da parte do homem, ou seja, a predestinação é condicional.

Foi então convocado um Sínodo Nacional da Igreja Reformada em Dort, no Sul da Holanda, que condenou a doutrina da predestinação condicional de Arminius.

Vejamos, portanto a base bíblica utilizada para respaldar as duas doutrinas:

PREDESTINAÇÃO:

(Romanos 8:29) - Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. (Romanos 8:30) - E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou. (Efésios 1:5) - E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade. (Efésios 1:11) - Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade (Romanos 9:21) - Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?

LIVRE-ARBÍTRIO

(Ezequiel 33:11) - Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que razão morrereis, ó casa de Israel? (Mateus 11:28) - Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. (João 12:32) - E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. (II Pedro 3:9) - O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se. (I Timóteo 2:3,4) - Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade. (Mateus 22:9) - Ide, pois, às saídas dos caminhos, e convidai para as bodas a todos os que encontrardes. (Marcos 16:15) - E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. (Tito 2:11) - Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens. (I Tessalonicenses 4:4) - Que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra; (II Timóteo 2:21) - De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra.

O que podemos aprender de todos estes textos é que Deus chama através da consciência, da palavra, dos testemunhos, do Espírito Santo. Se o homem rejeitar esse chamado, Deus pode parar definitivamente de chamá-lo, porém se ele responder ao chamado, Deus pode levá-lo a um outro nível de relacionamento com Ele, e a um chamado ainda maior.

Todos são habilitados à salvação. O problema não é o homem poder ou não poder salvar-se, mas sim o homem querer ou não querer salvar-se. “ E não quereis vir a mim para terdes vida” Jo 5:40.

Neste ponto então podemos achar que o homem não pode de maneira alguma escolher ser salvo, pois sua consciência está completamente endurecida por causa do pecado dependendo totalmente da graça e da eleição de Deus para que ele seja livre.

Então não haveria o livre arbítrio? A salvação não estaria a disposição de todos os homens? O que eu entendo sobre o livre arbítrio é que o mesmo foi uma conquista do pecado. Isso mesmo: conquista do pecado.

Se você for procurar o real significado de livre arbítrio você vai descobrir que é “Faculdade da vontade para se determinar”. Ou seja, a capacidade de decidir e fazer o que você realmente quer.

Mas desde quando o homem tem liberdade de fazer o que quer? O homem foi criado com esse livre-arbítrio? Creio que não. Em Gênesis 2: 16 e 17 diz: “E ordenou o SENHOR Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” (Grifo meu).

Estamos vendo a maneira que Deus tratou o homem antes da queda, com uma ordem direta, específica, sem opções ou alternativas quanto ao que o homem deveria fazer “dela não comerás!” Uma ordem sem escolhas. Não coma e pronto!

Seria Deus arbitrário? Teria feito o homem para ser uma marionete? Se não poderia comer de forma alguma, porque Deus colocou aquela árvore no jardim? Existe um princípio básico para a educação de qualquer pessoa chamado “limites”. Deus plantou a árvore do conhecimento do bem e do mal no jardim para mostrar ao homem que ele tinha sido feito a imagem e semelhança d’Ele, um ser perfeito, a coroa a criação, mas que ele teria limites, pois sem limites ele se sentiria com Deus.

Vamos fazer um paralelo entre a ordem dada no Édem, antes da queda e de Deuteronômio 30:19 “Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te propus a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência”.

Antes da queda do homem Deus não colocou opções, mas depois da queda sim.

No meu entendimento o livre arbítrio foi uma conquista do pecado, um fruto de engano que ao invés de libertar o escravizou.

O homem enquanto estava sob o domínio de Deus, como se fosse seu escravo, entenda “como se fosse”, pois não usava a sua própria vontade mas vivia sob a vontade de Deus, vivia uma vida de perfeita harmonia e paz. Vivam nus e não se envergonhavam, não tinham necessidade de nada, toda terra estava sob seu domínio.

O livre-arbítrio foi gerado na rebeldia de querer ser igual a Deus e tomar suas próprias decisões. O homem não sabia o quão enganoso é o coração. Essa “liberdade” que ele conquistou nada mais fez do que torná-lo escravo do pecado. A partir daí o homem deixou de fazer a vontade de Deus para fazer a vontade do pecado. Lembram do que Deus falou pra Caim? “Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo. Gn 4:7”.

Olha só isso: “o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo”. O livre-arbítrio se tornou um inimigo do homem. O desejo humano se tornou totalmente inclinado para o pecado porque o homem se tornou seu escravo. O homem que antes tinha simplesmente que viver sob a vontade de Deus, agora tinha que viver lutando contra a sua vontade pois esta estava escravizada.

Mesmo Deus tendo dado a lei para o povo de Israel, dando instruções precisamos para purificação, santificação e perdão dos pecados o homem não conseguiu se ver livre dos pecados.

Paulo explica essa situação em Romanos capítulo 7:

“Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Vs 15”

“Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim. Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. Vs 20 a 23”

Desta forma realmente o homem estava eternamente condenado pela sua própria vontade a uma perdição eterna.

Mas a graça de Deus foi muito maior que toda essa situação. Mesmo não havendo no homem bem algum que o levasse a Deus, Ele mesmo providenciou a salvação. O sacrifício perfeito de Jesus predestinou todos os homens que o receberem a serem salvos. “Ele veio para os que eram seus, mas os seus não o receberam. Mas a todos quanto o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus.” Jo 1:12.

"Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus" (Hb. 7:25). Podemos dizer que Deus escolheu o homem para ser salvo, agora esse homem deve-se achegar a Deus para receber essa salvação. Esse achegar parte de um chamado de Deus. O evangelho é um chamado de Deus nesta terra para que os homens se salvem. “Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, Não endureçais os vossos corações, como na provocação.” Hb 3:15. O chamado vem de Deus, mas a resposta deve partir do homem em se achegar a Deus. O homem para se achegar a Deus não deve usar seu livre arbítrio e sim abrir mãe dele e voltar a ser totalmente dependente de Deus.

“Todo homem que se chega a Cristo, verá que ele é capaz de salvá-lo - não apenas de salvá-lo um pouco, libertá-lo de um pequeno pecado, livrá-lo de uma pequena tentação, carregá-lo por um pouco e então deixá-lo cair - mas, capaz de salvá-lo da completa extensão de seu pecado, de todo o tamanho de suas tentações, de toda a profundidade de suas tristezas, por toda a duração de sua existência.” C.H. Spurgeon

Somos todos predestinados a ouvir a voz de Deus, mas temos que escolher abrir mão de nossa vontade, morrer para nós mesmos e caminharmos em sua direção para sermos transformados por Ele.